sexta-feira, 3 de junho de 2011

Refrigerantes estão a substituir o consumo de água entre crianças dos seis aos nove anos

Para o coordenador da Plataforma contra a Obesidade, Pedro Graça, os dados nacionais de um novo estudo europeu sobre obesidade infantil permitem ainda concluir que as escolas estão cada vez mais a cumprir o seu papel na prevenção do excesso de peso, mas não as famílias. "É altura de olharmos para dentro dos frigoríficos das nossas casas", diz.

Olhar para os gráficos do tipo de alimentos mais consumidos pelos mais novos, constantes na European Childhood Obesity Surveillance Initiative, é quase como ver a pirâmide dos alimentos virada ao contrário: aquilo que mais devia ser bebido e comido, porque tem menos calorias, como a água, e maior valor nutricional, como o pão, o leite, a fruta fresca ou a sopa, está entre o menos ingerido; pelo contrário, as pizzas, batatas fritas, hambúrgueres, salsichas, snacks ou pipocas têm consumos superiores a 90 por cento.

Trata-se dos primeiros dados nacionais recolhidos no âmbito do primeiro sistema europeu de vigilância nutricional infantil, criado por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS). Foi avaliada, em 2007 e 2008, uma amostra representativa de 3812 crianças portuguesas dos seis aos nove anos do 1.º e 2.º ano, de 181 escolas. De acordo com os critérios da OMS, 37,8 por cento destes miúdos têm excesso de peso e 15,2 por cento são mesmo obesos, números que confirmam outros estudos já feitos, refere o nutricionista Pedro Graça.

O "esforço" das escolas

Um dos dados novos do estudo é o facto de a escola parecer estar a cumprir mais o seu papel na prevenção do excesso de peso. Se é verdade que os números gerais parecem indicar que "o consumo de refrigerantes está a substituir a água", nota Pedro Graça, "as escolas já estão a disponibilizar alimentos saudáveis": a água (55,6 por cento), o leite (55 por cento), a fruta fresca (33,3 por cento) e os legumes (26,7 por cento) foram os alimentos mais preponderantes nos recintos escolares, ao contrário dos refrigerantes, os menos disponibilizados.

Outros dados que parecem confirmar "o esforço das escolas": as máquinas de venda automática só foram encontradas em 2,2 por cento dos estabelecimentos de ensino e cerca de 95 por cento das escolas referiu não ter nenhum tipo de publicidade que pudesse prejudicar a alimentação saudável e equilibrada das crianças. Quando se fala de obesidade infantil, "diabolizam-se quase sempre as mesmas coisas", refere o responsável. O que o estudo permite constatar é que, enquanto "a escola protege, o consumo feito em casa contraria o esforço dentro do espaço escolar".

"O que se passa fora da escola é da responsabilidade da família. Há uma dicotomia entre o esforço a nível escolar e não esforço das famílias." Pedro Graça diz que as famílias têm que perceber que "é preciso investir algum tempo na alimentação, dedicar algum tempo às compras de alimentos frescos, à sua confecção".

Olhando para a actividade física, repete-se o padrão. Oitenta por cento das escolas disponibilizam 90 ou mais minutos de exercício por semana, mas em casa as famílias não estão a ajudar os mais novos a mexerem-se mais: ao fim-de-semana, nalgumas regiões do país, chega a duplicar o número de horas que os mais novos passam em frente à televisão (em média, 3,91 horas/dia) e a jogar no computador (em média 2,33 horas/dia), comparativamente com os dias de semana.

"Este é um tempo que devia ser mais passado ao ar livre, a passear, e passam ainda mais horas inactivos. É um contra-senso. As famílias precisam de arranjar uma ou duas horas para ter actividade física ao fim-de-semana."

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